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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A ARTE DE VOAR


Uma hq biográfica, sujo personagem se confunde com a história da Espanha do séc XX. Suas guerras, suas vitórias, e suas tragédias. leia minha crítica aqui: 

A ARTE DE VOAR
Se eu tivesse lido esta HQ a tempo, ela entraria na minha lista das melhores do ano passado, talvez em primeiro lugar. Muito bom descobrir uma bela história, meio que por acaso, e ser fisgado por uma leitura cativante, com uma história que nos toca fundo na alma.
A ARTE DE VOAR é uma HQ espanhola, escrita por Antonio Altarriba, e desenhada por Kim. Em cerca de 200 páginas, ela conta a história da vida do pai de Altarriba, que se suicidou no dia 04 de maio de 2001, se jogando da janela da casa de repouso onde vivia. Se filho, sentindo ao mesmo tempo a dor da perda, mas sentindo mais ainda a dor que seu pai sentia, e suas motivações para o suicídio, decidiu contar toda a história de sua vida, suas aventuras, e como elas o levaram à uma vida de velhice cheia de tristeza. Mas longe de ser uma história depressiva sobre a morte, a história da vida dele é das mais fascinantes que uma pessoa comum pode aspirar.
Antonio, o pai, nasceu em uma vila rural da Espanha, onde “lutava” diariamente pra mudar de vida, cansado do marasmo e niilismo da vida no campo. Ele queria uma vida ambiciosa, como a maioria dos jovens, queria aventura. E, ao sair da vila, acabou tendo participação, direta e indireta, nos grandes eventos que moldaram a história da Espanha do século XX, como a Guerra Civil, e a ditadura do General Franco.
Contada em capítulos, cada qual representado por um andar que seu pai teria passado na queda para a morte, as histórias mostram algum momento da vida de Antonio enquanto mostra como era a vida na Espanha durante esses anos difíceis. Vemos a ambição juvenil, as durezas da vida adulta, e até mesmo a alienação da sociedade, que parece ter esquecido da luta armada, aceitando a ditadura como algo comum em suas vidas.
No primeiro capítulo, o da juventude, vemos Antonio como qualquer outro jovem, tentando levar uma vida melhor, a busca de aventuras na cidade grande, empregos, garotas, e as amizades. Mas, longe de ter algo comum, o autor foca nos eventos “extraordinários” da vida dele, que moldaram sua personalidade inquieta, o que o levaram para uma vida adulta como parte da resistência contra as forças do ditador direitista Franco, no capítulo seguinte.
Enquanto enfrentavam os problemas da Segunda Guerra, a Espanha também tinha seus problemas internos, com as forças de Franco cada vez mais dominando o país, impondo uma ditadura que tentava liquidar com a cultura local, acusando todos de comunistas, e tomando as terras das famílias rurais, e obrigando os jovens a se alistarem no exército. Nesse cenário, Antonio só quer tentar sobreviver, de todas as formas. Ele vive em fuga, morando de favor em casas de amigos. Até entra para o exército, mas acaba desertando, devido às explorações sociais que presencia.
Ele se junta à resistência, combatendo os soldados de Franco, indo preso, fugindo, etc. Nesse capítulo, chama atenção todo o calor humano entre os soldados da resistência. As histórias de amizade, as descobertas. Parece que Antonio nunca teve uma vida, onde pudesse descobrir o mundo, e sua vida nas lutas acaba sendo sua forma de fazer essas descobertas, em grande parte “de segunda mão”, ouvido histórias de seus amigos. Mesmo assim, Antonio é o protagonista de sua vida, vivendo as aventuras da luta, entre outras, como poucos homens vivem.
É até triste quando o país muda, após a consolidação do poder de Franco. Muitas pessoas, incluindo aí alguns que lutavam contra o regime, se alienam , tentando viver como burgueses, praticando as pequenas explorações capitalistas, e até mesmo negócios ilegais. Parece que toda aquela luta foi em vão. Antonio tenta se adaptar á essa nova vida, se casando tendo filhos, trabalhando em uma empresa. Mas, no fundo, ele começa a se sentir como uma alma presa.
Esse é o foco do terceiro capítulo. Depois de uma vida sem raízes, sempre indo de um lugar ao outro, correndo, voando, lutando, a vida comum parece entediá-lo. Além dos motivos óbvios, aprece que toda a alienação social o sufoca ainda mais.
E nada do que ele tenta fazer parece aliviá-lo desse sofrimento. Acompanhamos Antonio começando a sofrer as depressões da vida de meia idade.
O quarto capítulo mostra os últimos anos de vida dele, em um asilo para idosos. Ele tenta se entregar à velhice como todos os outros, mas algo dentro de si parece não querer se entregar. Mas, infelizmente, o calor daquela vida cheia de aventuras não consegue suportar a vida em clausura.
Antonio, o filho, conta a história do pai se entregar a piedade que os anos derradeiros de seu pai o influenciem a contar a história com tristeza e pesar. Pelo contrário, a vida de seu pai é para o leitor das mais empolgantes. Chega a surpreender mesmo como uma pessoa comum passa pela história sem ser lembrada nos livros juntamente com os heróis conhecidos. Antonio Altarriba viveu e lutou de forma digna dos grandes personagens históricos, e sua vida poderia passar despercebida se seu filho não a contasse em essa bela Graphic Novel.
Kim, o desenhista, possui um traço simples, leve, mas realista na medida para que as cenas e locais retratados situe o leitor pela trama, ao mesmo tempo, utilizando de recursos gráficos lúdicos para mostrar o simbolismo de passagens chave da história.
Uma leitura tocante, mas não no sentido sentimental. Ela nos toca por seu ímpeto de bravura e aventura! A ARTE DE VOAR foi publicada aqui pela Editora Veneta, e é sua primeira publicação em quadrinhos no mercado. Esperemos que mais ótimos títulos sejam lançados.


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